MUEDA 79 | The Mozambique Archive Series Som sterio, Video HD cor, 11’ Realização: Catarina Simão Montagem: Fernanda Gurgel Lisboa, 2013
Mueda 79 é a leitura atenta de uma sequência retirada de “Mueda, Memória e Massacre”, um filme moçambicano realizado por Ruy Guerra em 1979. O excerto mostra o registo de um teatro popular encenado em Mueda, na Provincia de Cabo Delgado. Tiago e Modesta esperam para ser recebidos pelo Administrador, não sem primeiro ter que suportar a humilhação verbal e física. O lenço de Modesta é arrancado da sua cabeça, deixando-a tonta e irritada. Somente os brancos tinham o direito de ficar cobertos com chapéu no interior. Mas mesmo antes dos dois serem acompanhados para dentro do Posto, o lenço é puxado e devolvido, apenas para poder ser arrebatado mais à frente, violentamente, pelos sipaios. É neste momento que o enunciado inicial do filme é alterado: a introdução de um take no interior do Posto Administrativo permite que a ação continue quando Modesta e Tiago entrarem. Mas o movimento dos dois personagens é interrompido pelo Intérprete quando estes chegam à porta do sala do Administrador. É o aviso para que não cruzem a fronteira desenhada no ar pelo movimento do braço: ‘não toque na mesa do branco’. O filme Mueda, Memória e Massacre foi considerado o primeiro filme de ficção da República Popular de Moçambique. Guerra queria demonstrar que a ficção, sempre mais considerada pela indústria do que o documentário, poderia ser conseguida usando apenas alguns elementos da realidade. O resto do mundo desde então não seguiu os critérios éticos e estéticos para os quais esse filme contribuiu, mas ele lembra que um elemento essencial se perdeu.