Exposição Temporária
de 8 Maio a 8 Junho 2020.
Todos nós temos um arquivo familiar. Ou pelo menos – uma história familiar. Algumas
histórias familiares estão muito bem conservadas e preservadas, mas muitas delas são
esquecidas. No projecto “Origin” do arquivo familiar de Fábio Miguel Roque, torna-se algo
mais do que apenas um vestígio de histórias familiares esquecidas. Torna-se uma prova
do tempo.
Sobre como o tempo muda os rostos, eventos, – cobre com moldes algo que antes
parecia importante. Se este projecto estivesse apenas tentando nos dizer quem eram
essas pessoas, como elas olhavam, o que estavam fazendo, provavelmente só valeria a
pena ficar guardado num álbum de família de uma única cópia, para tirar da gaveta em
ocasiões especiais, e ser mostrado apenas para membros da família e amigos próximos.
O fato de ser publicado e exposto transforma-o na história genérica dos seres humanos,
uma história sobre o tempo. A fotografia como meio de se torna o maior tópico desta
história. Emulsão arruinada, os velhos carimbos Kodak tornam-se os personagens da
história, ao lado das pessoas. A caligrafia e faz parte da história visual onde a forma de
representação tipográfica troca de significado. Esta caligrafia pode ser entendida em
qualquer idioma: é um sorriso do tempo sobre a temporalidade da existência humana.
As pessoas, que uma vez pareciam felizes e satisfeitas com suas vidas, sob a luz do sol e
de outras coisas pouco conhecidas, agora olhavam-nos através das camadas da
transformação: às vezes os rostos são cobertos de poeira e arranhões. Às vezes, vemos
uma versão invertida a preto e branco, como se olhássemos para o filme, rostos escuros
com olhos brancos, criaturas alienígenas sem nenhuma relação visível conosco – apenas
as impressões de emulsão. E como um arqueólogo das múmias egípcias, um espectador
deste livro deve examinar as histórias que nunca o aproximam da verdade: quem eram
essas pessoas e o que aconteceu com todas elas? A fotografia é a única resposta à
questão da vida, por isso faz dela a metáfora mais próxima da morte: tudo o que pode ser
refletido em papel e armazenado para sempre sob uma forma de impressão, pode
desaparecer tão facilmente na realidade do rosto da Terra . Tudo o que se reflete na foto
nunca mais será o mesmo.
Incluindo nós.
Irina Popova
“Origin” é um projeto que começou de forma invulgar e que acabou por dar lugar a três
publicações diferentes, mas que se complementam.
Em 2015, encontrei uma pasta perdida, que da qual ninguém sabia muito bem o
paradeiro, nessa mesma pasta, encontrei parte da minha história familiar, imagens que
não constavam nos álbuns de família, fiquei logo naquele instante apaixonado pelo que
via.
A maioria do meu trabalho de autor até agora, tem-se centrado muito nas questões
pessoais enquanto individuo, e enquanto individuo na sociedade, e com o tempo e depois
de deixar amadurecer a ideia, resolvi fazer um projeto com estas imagens perdidas,
encontrei a minha própria visão pessoal para elas, e tentei-me encontrar nelas. Tentei ir
mais além e descobrir as minhas origens, o como, o porquê, o quando.
Desta minha tentativa resultou o projeto e livro “Origin”, um revisitar do meu passado,
através de uma visão muito particular, rostos, situações, eventos, muitos deles ainda sem
explicação aos meus olhos, outros que me permitiram perceber algo. Saber da
simplicidade das minhas origens, deu-me um sentimento de ternura profunda, ternura
para com eles, perante todas as dificuldades que enfrentaram, o regime, a guerra, a fome,
a procura de uma melhor vida fora do país.
O livro foi finalizado, nos finais de 2015 com a grande ajuda, do Peter Oey, e também da
Irina Popova (através da introdução ao projeto), mas o livro acabou por ficar de lado, não
sabia o que fazer com ele, ou se queria realmente avançar com este projeto, se queria
expor ou reviver todas as situações familiares. Acabei por avançar, em 2017, mas percebi
que me faltava algo, que queria mais, então através de entrevistas de novas fotos, de
novas procuras, resolvi fazer um prólogo e epílogo. Onde acrescento várias situações à
narrativa de todo o projecto.
Com este projecto foi lançado o Livro Origins que pode ser adquirido no site da editora Preto Books em … www.pretobooks.com/Origin-Encore
Fábio Miguel Roque (1985) fotografo, editor e curador, nasceu em Lisboa e vive
actualmente em Sintra, Portugal.
No seu trabalho, podemos distinguir uma clara dualidade entre a fotografia documental,
mas também e sobretudo, a exploração de caminhos mais pessoais.
Fez grande parte dos seus estudos no IPF (Instituto Português de Fotografia), entre 2004
e 2007, mas também diversos workshops noutras instituições, entre eles História da
fotografia contemporânea na Ar.Co.
Trabalhou como fotojornalista no inicio da sua carreira, mas por diversos motivos, decidiu
focar-se em diferentes assuntos.
Nos últimos anos, realizou várias exposições tanto individuais como colectivas, tanto em
Portugal como noutros países, como Estados Unidos, Itália, Espanha, Alemanha, Bulgária
e Polónia. Foi também selecionado para vários prémios e festivais, nacionais e
internacionais. Do seu trabalho resultaram várias obras, livros e pequenas publicações,
entre elas: “Hometown”, “South”, “I found fireflies in my dream, talking to a strange, drunk
and dead man!”, “Awaken” e “Origin”
Actualmente trabalha também como editor, no projecto “Preto Books”, e desde o inicio já
editou e publicou mais de 50 obras de vários artistas nacionais, mas sobretudo
internacionais.
É membro fundador do colectivo internacional, Latent Image Collective, desde 2014.
É também representado pela galeria italiana, The Bid Art Space, em Pesaro.
Fábio Miguel Roque
www.fabiomiguelroque.com